31 de out. de 2010

Nada é tão ruim que não possa ficar pior

[Edição]
Seguindo contribuição do amigo Anselmo, segue algo muito parecido com o que vocês estão prestes a ler:


[Edição]

Com essa máxima clichê eu batizo meu post sobre uma noite que foi TUDO, menos clichê. E tudo o que eu queria era que fosse simplesmente mais uma noite normal de sono.

Na quarta-feira passada eu fui dormir um pouco mais cedo do que o de costume, ainda tentando equilibrar os efeitos do horário de verão. Era pouco depois das 22h quando me deitei.

Poucos minutos depois, comecei a ouvir marteladas que pareciam vir direto do outro quarto. Moro num prédio bem antigo, ou melhor, bem velho, para o qual me mudei recentemente. É um daqueles prédios em que você sabe em qual cômodo o seu vizinho de cima está, bastando acompanhar o som dos passos mais pesados. E naquele momento eu sabia que ele estava martelando alguma coisa bem em cima de mim.

Não dei muito bola. Os vizinhos de cima são gente boa, sempre respeitaram horário, e pensei que talvez tivessem tido alguma emergência - como a janela dele deles, cujo vidro caiu recentemente deixando um vão aberto. Pensei em esperar cinco minutos para ver se passava.

Lá pelo vigésimo minuto de marteladas já ia me levantar quando ouvi quebrarem alguma coisa de vidro. Daí foram mais umas 3 marteladas e acabou. "Pronto, posso dormir", pensei.

Mas eu tinha ficado com raiva, isso me despertou e eu fiquei me revirando na cama uns minutos. Consegui dormir finalmente.

Não durou muito. Pouco mais de uma hora depois, eu e minha namorada acordamos com um barulho forte DENTRO de casa. E dessa vez deu pra sentir era dentro mesmo. Levantamos e procuramos a causa. Chegamos na varanda, demos com um azulejo no chão e a parede assim:



Sim, os azulejos resolveram começar a desabar sozinhos em plena 1h da madrugada.

Fosse só isso tudo bem. Mas tem um agravante. Como eu disse, meu prédio é velho. E já há algum tempo notamos uma rachadura na nossa varanda. Basicamente isso aqui:


Dá pra ver aí bem no meio, descendo a partir da janela.

Já estávamos meio cismados. E ser acordados no meio da noite pela queda dos azulejos da parede em cima da rachadura não é exatamente uma canção de ninar.

"Amanhã de manhã, primeira coisa é chamar um engenheiro!", combinamos.

Amanhã de manhã, amanhã de manhã... e até lá!? E se isso está caindo agora??? Deitei novamente com esse relaxante pensamento na cabeça. Lembrei ainda dos mendigos que há umas 3 semanas passaram a dormir exatamente embaixo da varanda. E se aquilo cai em cima deles?

Apenas deitei. Obviamente não dormi. Rolei na cama durante um tempo que parecia uma eternidade. Esperava a qualquer momento ouvir outro barulho, sem saber se seria uma martelada, um azulejo caindo, uma VARANDA caindo, um mendigo implorando socorro...

E então veio o barulho. Lá pelas 3h30. Um estrondo enorme, daqueles que acordam todo o quarteirão. "Ai meu deus!!", pensei. "É hoje! Fiquei sem a varanda, fiquei sem uma parede em casa, os mendigos morreram nos destroços e vão botar a culpa em MIIIIMMM e eu vou ser preso pra assistir da TV da cadeia meu prédio desabando!!!! Esqueçam o engenheiro, eu quero um advogado!!!"

Eu e minha namorada fomos devagar, como quem não quer chegar para vior o pior dos cenários. Mas chegamos, e lá estava ela, a varanda... intacta. Nada de novo. Os azulejos do jeito que deixamos.

"Diacho, o que foi isso??"

Abri a janela pra conferir a parte externa da varanda. E daí descobri que, na verdade, um acidente horrível acabara de acontecer no cruzamento, do lado do prédio. Um carro estava de cabeça para baixo, o outro soltava fumaça. Foi uma batida tão forte e repentina, em cheio, que nem deu tempo de frearem.

Não registrei o acidente, resgate etc, mas tirei umas fotos da esquina depois.





Nas fotos dá para ver o parachoque encostado numa placa inclinada. Ao lado, a placa azul com o nome da rua, deitada no chão. Ali onde está o parachoque existia uma grade de segurança, quatro ferros segurando duas placas de metal. Só sobrou um ferro de pé. Parte da lataria de um dos carros voou perto dos mendigos, cerca de 15 metros de distância.

Pelo menos eu soube depois que apenas uma pessoa ficou ferida.

Bom, não preciso dizer que, com o acidente, a minha rua ficou mais movimentada que uma rave, com direito às luzes giratórias das sirenes dos 7 carros de PM, SAMU e Bombeiros que foram socorrer.

Os mendigos, aliás, ficaram agitados, e um deles não parava de repetir que tinha acordado com o barulho, que estava sonhando com a ex-mulher na hora. Ia e voltava gritando coisas.

Quando a cena se acalmou, achei que poderia dormir, mas chegou o guincho para tirar os carros. Tentem imaginar o barulho de um carro sendo chacoalhado até virar de volta à sua posição normal, e depois sendo arrastado, retorcido, por um caminhão e seu motor e suas correntes, às 4h30 da manhã.

Deitei, mas logo desisti. Sabia que não dormiria mais. Estava aceso! Sentei para mexer no computador e, poucos minutos depois, um dos mendigos começou a cantarolar embaixo da minha janela. Não bastasse isso, achou um ferro pesado, fruto do acidente, e resolveu brincar de "vamo ver quem manda aqui" com os outros mendigos. Batia o ferro no chão com força, e cada vez que fazia isso era como uma marretada na minha parede. Tive que abrir a janela e mandar parar, ao que ele me respondeu "Ô, cê num tem uma camisa aí pra dar?" "NÃO! Agora faz favor e PÁRA!".

Aí na foto embaixo vocês veem um pouquinho do "acampamento" dos mendigos. A foto foi tirada depois que eu eliminei umas 10 caixas de papelão dali.




Fiquei no computador até as 6h15 da manhã, quando saí para comprar pão. E daí, logo que saio, vejo os restos do acidente e ainda dou de cara com isto:


Essa é a janela do primeiro andar do meu prédio. Vejam no canto da direita e em cima, os vidros quebrados e o ferro afundado para dentro no canto de cima. No dia anterior era só uma janela normal. Velha, mas inteira.

Cismei que as marretadas da noite anterior poderiam ter sido alguém tentando arrombar a janela, já que só pararam com o som de vidro quebrando. Mas não demorei a descobrir que isso TAMBÉM foi fruto do acidente. A roda de um dos carros voou cerca de dez metros e a uns 2,5 metro de altura, acertando em cheio a janela.

Tinha caco de vidro para todo lado, da janela e dos carros, pedaços da parede do prédio, lixo dos mendigos etc. Além de uma rachadura fora da varanda e azulejos caindo dentro da minha varanda. Um cenário de guerra. O horror, o horror!

Chamamos o engenheiro. Os azulejos estão caindo simplesmente porque foram pessimamente colocados pelo dono anterior do apartamento.Vão cair todos, logo. Os da cozinha podem ou não seguir. E sim, temos que nos preocupar com a varanda. Não a curtíssimo prazo, o que quer dizer que "podemos esperar as chuvas passarem, mas é bom não demorar", segundo o engenheiro.

Isso tudo numa noite só. Agora tem que consertar a fachada, a janela, a varanda. Chamar a prefeitura, mandar arrumar as placas de sinalização e de segurança da esquina, mandar tirarem os mendigos.

Pelo menos podemos contar com a boa vontade e paciência do síndico do prédio.

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E adivinha quem é o síndico?