29 de set. de 2009

Adiantando um post

Sábado passado participei de um grupo de foco com blogueiros de Minas Gerais,organizado pelo pessoal do Web Citizen. Foi muito bacana, conheci um bocado de gente legal. Mas pretendo contar com mais detalhes assim que tiver em mãos os endereços dos outros blogs presentes. Até porque estou devendo umas fotos tiradas do celular no pós-encontro no Maleta. O esperto aqui não anotou o endereço de ninguém...

26 de set. de 2009

Meu trauma do Smiley ou "Quando eu soprava cartuchos"

Nasci no início da década de 1980, e isso já é suficiente para vocês imaginarem o tipo de infância que eu tive. Xou da Xuxa, Trem da Alegria, Atari, Karate Kid, Curtindo a Vida Adoidado e por aí vai.

Os anos 80 talvez tenham sido tão marcantes para as crianças, entre outras coisas, por causa da velocidade com que tudo mudava, inclusive, e especialmente, a tecnologia com todas as suas luzes coloridas de neon que a década mais brega da história conseguiu fabricar.

Os videogames surgiam um após o outro. Do antigo Telejogo, monocromático, com um palitinho que rebatia uma bola quadrada na parede quando você girava um botão preso no console, passamos para o Atari (creio que isso ainda era final dos anos 70), com seus joysticks e uns pontos brancos na tela que se moviam e coloriam para lembrar carros, aviões, canhões e bonequinhos feitos com 5 peças de lego coladas com superbonder.

E então eis que surge uma nova geração, um salto tecnológico gigantesco: Phantom System, Master System, Mega Drive etc, com gráficos que, comparados ao Atari, eram o que hoje é a computação 3D comparada com o 1º filme do King Kong.


"Eu pego os de madeira pendurados nos fios e você pega os de código binário, ok?"

Pois é, meu vizinho tinha um videogame - esse grande gerador de sociabilidade infantil, ao contrário do que pregavam os tecnófobos de plantão. E, como era de hábito lá pelos meus 9 anos, fui à casa dele tentar "zerar" (nossa, lembram disso?) um jogo. Não lembro o nome do jogo, mas era de um homem das cavernas que dava com seu tacape nos inimigos, quebrava coisas, ganhava bônus etc.

É, videogame era um vício, como para a maioria dos meus colegas. E naquele dia, o maldito cartucho estava com "tilt" (para os mais novos, isso quer dizer "tava dando pau"). Fizemos o que se fazia sempre nessa ocasião: tiramos e sopramos o cartucho, para tirar as impurezas. Sopramos o console também, repetindo a operação diversas vezes. Não adiantava, o jogo travava sempre.

Daí descobrimos que apertar o temidíssimo botão "reset" era mais vantagem e funcionava melhor (como veem, jamais nos passava pela cabeça parar de jogar para pedir ajuda ou mandar consertar). Apertamos o reset. Começamos a jogar, travou. Apertamos reset. Jogamos mais, travou de novo. Lá pela quinta vez, travou de vez. Apertamos reset e nada. Reset, reset e nada. Reset, reset, reset, reset, reset e, de repente...

(eu fiz isso no Paint, a melhor ferramenta pra dar esse resultado)


... essa... "coisa"... aí apareceu, enorme, ocupando toda a tela da TV. Desse jeito: oval, tosca e pixelada.

O que se seguiu deveria ter sido gravado para a posteridade. Nós dois, que estávamos sentados no chão, ficamos de pé de uma vez só usando técnicas ninjas desconhecidas por nós mesmos e nos jogamos um ao outro e cada um por si para fora da sala como se fosse o último momento de nossas vidas.

Eu jamais tinha visto um smiley na vida, nem meu amigo, e essa tela da carinha sorridente - que nos pareceu extremamente irônica - definitivamente nunca tinha feito parte de qualquer momento do jogo! Para nós, na nossa imaginação de criança, essa repentina aparição de uma forma humanóide na TV pareceu mais assim:


Bwwaaahahaha! Eu sou o monstro do Reset e vou pegar vocês!!!

Demoramos um tempo para nos aliviarmos do susto e tomamos coragem de voltar para a sala. Salvo engano, estávamos agora acompanhados de algum adulto e/ou responsável para nos proteger. A fita havia começado normalmente, e funcionou. Não deu mais tilt, pau, ou qualquer outra disfunção tecnológica.

Não sei exatamente o que foi aquilo, provavelmente era a primeira coisa a aparecer na inicialização do cartucho, brincadeira de programadores que "sabiam" que essa tela não apareceria... exceto se dois pentelhos resetassem tanto o videogame que travasse logo no primeiro centésimo de segundo.

O smiley existe desde 1967, mas só fui ver essa cara maligna de novo quando começou a febre das salas de bate-papo na era pré-histórica da conexão discada. Hoje em dia já fizemos as pazes

15 de set. de 2009

Dois filmes de Patrick Swayze que não são "Ghost" nem "Dirty Dancing"

Pois é, Patrick Swayze desde ontem descansa em paz. Não posso negar que ele fez parte da minha infância e essencial formação industrial-cultural, por isso não poderia deixar de fazer também a minha homenagem.

Mas, ao contrário do que todo mundo já deve estar cansado de falar - de Ghost e de Dirty Dancing - resolvi fazer isso trazendo dois filmes mais recentes dele, que valem muito a pena e provavelmente jamais estarão na Sessão da Tarde.

O primeiro é um pouco mais conhecido no circuito quero-ser-cult-mas-ainda-não-aguento-Godard. Chama-se Donnie Darko, e trata de um adolescente com sintomas de esquizofrenia que, durante um ataque de sonambulismo que o salva de ser morto por uma turbina de avião que cai sobre seu quarto, passa a ter alucinações com um homem vestido de coelho diabólico que lhe diz quando o mundo vai acabar. As discussões vão de filosofias sobre a vida, passando por teorias de viagem no tempo e mistérios quebra-cabeça.
Acreditem, é sim muito bom! Melhor de tudo: o filme se passa nos anos 1980, com trilha sonora toda da época.
Patrick Swayze interpreta um desse gurus charlatões do otimismo, que vive de suas fitas VHS sobre como ter autoconfiança e vai dando palestras em escolas para os alunos.

Segue o trailer:



O outro filme se chama 11:14. É, o nome do filme é um horário, que na verdade é o momento culminante das diversas histórias contadas em paralelo. A ideia é bastante interessante: mostrar todas as ligações entre diversos acontecimentos num intervalo curto de tempo. São umas 4 ou 5 histórias (não me lembro agora) contadas uma de cada vez, porém todas se passam mais ou menos no mesmo momento, interferindo umas nas outras. Enquanto um assalto é simulado num supermercado, um policial investiga o atropelamento de um cadáver que caiu da ponte e alguns adolescentes bêbados aprontam pela cidade (entre outras coisas). Bom, espero que tenha dado pra entender. O filme não é confuso, eu é que não sei explicar.
Patrcik Swayze interpreta um personagem quase oposto do que fez em Donnie Darko. Aqui ele é o protagonista de uma das histórias, um pai superprotetor, mas muito deprimido, que de repente tem que lidar com um cadáver e se livrar dele. Desculpem, faz tempo que vi o filme e não lembro de mais detalhes sem estragar as coisas.

Aqui está o trailer:


Agora, se ficar curioso, pode ver o filme inteiro, que está dividido em partes no youtube, aqui :)

E sim, esse post acabou sem piadinha com Ghost.

8 de set. de 2009

O sujeito do sobretudo

Um dia, subindo a rua para o meu antigo trabalho, eu reparei numa figura muito peculiar: um sujeito que estava usando sobretudo, chapéu (daqueles tipo detetive de filme noir) e óculos escuros de lentes pequenas e redondas, um cavanhaque daqueles que junta bigode e barba, e um rabo-de-cavalo curto, aquele cotoco que fica suspenso no ar. Estranhei apenas o fato de que era um dia muito quente para um sobretudo, mas imaginei que ele deveria ter algum motivo pra estar usando aquilo.

No dia seguinte esbarrei na mesma figura (não dá pra ignorar). Estava usando exatamente a mesma roupa.

Dias depois, descobri que o encontrava sempre no caminho porque trabalhava no mesmo prédio que eu. Com a atenção aguçada a partir de então, reparei que ele ia trabalhar todos os dias exatamente com a mesma roupa. Todos os dias, invariavelmente, com sol ou chuva, de janeiro a dezembro.

Acrescento à descrição, para completar: sobretudo, calça e chapéu eram cinza escuro, e a camisa social e o sapato eram pretos.


No calor diário: isso + 30kg + cavanhaque - gravata + rabo-de-cavalo + óculos escuros

O sujeito, com essa aparência, ganhava um ar meio misturado de detetive, gângster e figurante de Matrix. O rabo-de-cavalo, cavanhaque e o fato dele ser um pouco gordinho, porém, quebravam qualquer charme.

Pois bem, trombei com ele de novo hoje, no supermercado (ele deve morar perto de mim, por isso a coincidência do caminho). Estava usando a mesma roupa. Chapéu e sobretudo para fazer compras num lugar quente e lotado, num dia muito quente.

Conheço pessoas que adquiriram certas manias. Uma colega, depois de casar, pegou mania de limpeza - o que não tinha nada a ver com a personalidade dela. Outra, daquelas porra-loucas (ou "porras-loucas"?), mudou de país e após um tempo não conseguia mais andar se não fosse de sapato de salto (que provavelmente nunca tinha tido antes). Ora, eu próprio não sou um exemplo de equilíbrio, ou não faria terapia.

Mas ao ver aquela figura de novo fiquei imaginando o que na vida de alguém faz a pessoa chegar ao ponto de vestir uma outra persona 24h por dia. Isso é diferente daquele papel social que todo mundo interpreta todo dia. Ninguém é totalmente transparente, molda-se de acordo com a situação e algumas vezes passsa o dia comportando-se praticamente como se fosse outra pessoa. Um vendedor, por exemplo: não importa se o bicho tá pegando em casa, tem que parecer feliz e cheio de energia para vender aquele eletrodoméstico.

Mas o sujeito do subretudo é diferente. Ele levanta, todos os dias, e literalmente veste uma personalidade. Fico intrigado pensando como ele vê o mundo enquanto caminha. Será que na sua cabeça, enquanto ele anda pela cidade ele cria uma voz de narrador que conta o que ele estava pensando? E desperta de repente, quando ouve uma sirene de ambulância, imaginando que a qualquer momento Al Capone vai passar seguido pela polícia de Chicago? Ou não, pensa que está vivendo num mundo criado por uma máquina para nos iludir, que estamos apenas dentro da Matrix? Ou nada disso, tem pensamentos comuns como todo mundo, mas por algo que nem ele mesmo sabe explicar (mas Freud sim), apenas se sente confortável, disposto a ser visto, quando usa aquele conjunto específico de peças de roupa e cortes de cabelo (que na verdade praticamente o escondem completamente)?

Ele está disposto a ser visto, isso é fato. Mais do que isso, mesmo que ele não saiba, ele QUER ser visto, e identificado como algo que na verdade somente ele consegue identificar. E certamente sabe dessa sensação de dúvida e curiosidade que causa, com o que secretamente se diverte.

Eu, sinceramente, apenas espero que ele tome pelo menos dois banhos por dia no verão, ou não entro no elevador com ele.

2 de set. de 2009

Partindo do pressuposto errado

Sabem o que eu fiz no verão passado? Eu perdi toda a consideração, da pouquíssima que já tinha, por um colunista de um jornal. Daqueles que têm meia página para lançar notinhas de 5 linhas sobre amenidades aleatórias, e que eu tinha de ler porque fazia parte do meu trabalho diário.

O dito colunista, naquele dia, resolveu escrachar o filme "Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado". No começo desse filme norte-americano, a protagonista ganha uma viagem com tudo pago ao responder à pergunta de um programa de rádio. A pergunta é "qual a capital do Brasil?". A resposta, considerada correta e que lhe dá o prêmio, é "Rio de Janeiro". O colunista conta isso e diz que é a gota d'água, que os enlatados passaram dos limites de desinformação etc etc.

Não vou contar o filme, mas o fato é que obviamente o colunista NÃO VIU O FILME e saiu gastando tinta do jornal à toa, partindo do pressuposto errado.

Sei lá porque isso me veio à cabeça hoje, e acabei lembrando não de pessoas, mas de filmes que, a partir da forma de contar sua história, remetem a esses pressupostos errados - seja na própria história ou na "filosofia" do filme (me faltou palavra melhor, desculpem...)

Lembrei de alguns deles e resolvi compartilhar. Digamos que esta seja a coletânea "não vale dizer que já sabia depois dos créditos". E vamos a eles (não se preocupem, sem spoilers):

1 - Os Outros



Liguei a TV um dia e estava passando esse filme, que sempre tive curiosidade de ver. Para meu enorme azar, eu não sabia que estava na sequencia final. Preso pela tensão, acabei estragando completamente a história.


2 - O Amigo Oculto



Pois é, outro filme que não vi. Na verdade, não vi nem um ceninha sequer, e no entanto sei o final porque uma vez uma pessoa "mui amiga" virou pra mim e perguntou se eu lembrava o nome "daquele filme da uma menina que diz que tem um amigo imaginário, e pessoas que ela conhece vão morrendo, mas aí no final...". Sim, ela contou o final. Eu não tinha visto o filme, mas tinha ouvido falar. Lembrarei desta história com ódio pelo resto da vida e hei de contá-la para meus netos com tom de lição de moral.

3 - O Sexto Sentido



Tem gente que ama e gente que odeia esse filme. Algumas pessoas que assistiram me falaram depois "ah, logo no começo eu já sabia". Na maior parte são pessoas metidas a sabichonas. Nunca vi alguém que tivesse dado a resposta NO MEIO do filme. Só depois. Assim não vale.


4 - O Clube da Luta



Uma obra que é ao mesmo tempo pop e cult. Não tem muito pra dizer, o filme é sensacional e, como a ideia do post, você passa o tempo todo achando que o filme é uma coisa e depois descobre que é outra completamente diferente, mas que é aquilo mesmo também. Sacou?


5 - O Hospedeiro



Um monstro ataca uma cidade, engole uma garota viva e a leva pro rio de onde veio. O pai da garota teve contato com o monstro. Ele e sua família passam a ser perseguidos pelas autoridades, pois podem ter sido contaminados com um vírus misterioso. O país está em alerta geral pela doença desconhecida, e a família tenta desesperadamente encontrar a garota, que conseguiu dar um sinal de vida. Um terror com perfeitos toques de humor que não tiram a tensão da história. E seria completamente diferente não fosse um pressuposto errado no meio de tudo. Vale a pena demais!


6 - Eu Sei Quem Me Matou



Junto com O Hospedeiro, foram os filmes que me inspiraram na ideia do titulo do post. Neste filme, uma garota é encontrada na beira da estrada com um braço e uma perna amputados - marcas de que foi atacada por um assassino serial que está sendo investigado. Levada para o hospital, é reconhecida pela família como a filha que desaparecera duas semanas antes. Ela, porém afirma ser outra pessoa com outro nome e uma história de vida completamente diferentes. Flashbacks frequentes e um uso constante da cor azul clara em todo tipo de elemento, das roupas à decoração, aos olhos, aos objetos (reparem a predominância da cor no trailer) bagunçam a cabeça do espectador o tempo todo. Aqui é até possível adivinhar o fim da história sim, mesmo que no chute. Mas, como no Hospedeiro, o que interessa é o pressuposto que guia as ações de todos os personagens.


7 - Dead End



Eu estava quase publicando o post quando lembrei deste. "Dead End", não sei se tem nome em português. Peguei uma vez, por acaso, começando nesses Corujões da vida, e fiquei preso até o final. Terror com direito a misterioso-carro-preto, carrinho-de-bebê, mulher-de-branco e cabana-abandonada, tudo isso no meio de uma estrada deserta e interminável que uma família pega durante uma viagem. O que podia ser um monte de clichês é um dos melhores filmes de terror que já vi (com direito à famosa pegadinha final nos últimos segundos pra deixar coisas no ar).

8 - Os suspeitos



A história é contada por flashbacks a partir do depoimento de um crimonoso a um delegado. Um crime incomum, no qual várias pessoas morrem sem uma explicação plausível, organizado por um homem misterioso e abominável que nunca se mostra. "O maior truque do Diabo foi convencer a todos que ele não existe" [fala do trailer que, infelizmente,como em outros aí em cima, não achei legendado]. Como quase todos os filmes citados (exceto o Hospedeiro) se você não viu os últimos 2 minutos, você absolutamente não viu o filme. Mesmo que seja pra dizer no final que já sabia desde o começo.


Agora assistam a esses filmes, e jogue a primeira pedra quem nunca deu com os burros n'água porque fez alguma coisa ou chegou a alguma conclusão partindo do pressuposto errado.