26 de set. de 2009

Meu trauma do Smiley ou "Quando eu soprava cartuchos"

Nasci no início da década de 1980, e isso já é suficiente para vocês imaginarem o tipo de infância que eu tive. Xou da Xuxa, Trem da Alegria, Atari, Karate Kid, Curtindo a Vida Adoidado e por aí vai.

Os anos 80 talvez tenham sido tão marcantes para as crianças, entre outras coisas, por causa da velocidade com que tudo mudava, inclusive, e especialmente, a tecnologia com todas as suas luzes coloridas de neon que a década mais brega da história conseguiu fabricar.

Os videogames surgiam um após o outro. Do antigo Telejogo, monocromático, com um palitinho que rebatia uma bola quadrada na parede quando você girava um botão preso no console, passamos para o Atari (creio que isso ainda era final dos anos 70), com seus joysticks e uns pontos brancos na tela que se moviam e coloriam para lembrar carros, aviões, canhões e bonequinhos feitos com 5 peças de lego coladas com superbonder.

E então eis que surge uma nova geração, um salto tecnológico gigantesco: Phantom System, Master System, Mega Drive etc, com gráficos que, comparados ao Atari, eram o que hoje é a computação 3D comparada com o 1º filme do King Kong.


"Eu pego os de madeira pendurados nos fios e você pega os de código binário, ok?"

Pois é, meu vizinho tinha um videogame - esse grande gerador de sociabilidade infantil, ao contrário do que pregavam os tecnófobos de plantão. E, como era de hábito lá pelos meus 9 anos, fui à casa dele tentar "zerar" (nossa, lembram disso?) um jogo. Não lembro o nome do jogo, mas era de um homem das cavernas que dava com seu tacape nos inimigos, quebrava coisas, ganhava bônus etc.

É, videogame era um vício, como para a maioria dos meus colegas. E naquele dia, o maldito cartucho estava com "tilt" (para os mais novos, isso quer dizer "tava dando pau"). Fizemos o que se fazia sempre nessa ocasião: tiramos e sopramos o cartucho, para tirar as impurezas. Sopramos o console também, repetindo a operação diversas vezes. Não adiantava, o jogo travava sempre.

Daí descobrimos que apertar o temidíssimo botão "reset" era mais vantagem e funcionava melhor (como veem, jamais nos passava pela cabeça parar de jogar para pedir ajuda ou mandar consertar). Apertamos o reset. Começamos a jogar, travou. Apertamos reset. Jogamos mais, travou de novo. Lá pela quinta vez, travou de vez. Apertamos reset e nada. Reset, reset e nada. Reset, reset, reset, reset, reset e, de repente...

(eu fiz isso no Paint, a melhor ferramenta pra dar esse resultado)


... essa... "coisa"... aí apareceu, enorme, ocupando toda a tela da TV. Desse jeito: oval, tosca e pixelada.

O que se seguiu deveria ter sido gravado para a posteridade. Nós dois, que estávamos sentados no chão, ficamos de pé de uma vez só usando técnicas ninjas desconhecidas por nós mesmos e nos jogamos um ao outro e cada um por si para fora da sala como se fosse o último momento de nossas vidas.

Eu jamais tinha visto um smiley na vida, nem meu amigo, e essa tela da carinha sorridente - que nos pareceu extremamente irônica - definitivamente nunca tinha feito parte de qualquer momento do jogo! Para nós, na nossa imaginação de criança, essa repentina aparição de uma forma humanóide na TV pareceu mais assim:


Bwwaaahahaha! Eu sou o monstro do Reset e vou pegar vocês!!!

Demoramos um tempo para nos aliviarmos do susto e tomamos coragem de voltar para a sala. Salvo engano, estávamos agora acompanhados de algum adulto e/ou responsável para nos proteger. A fita havia começado normalmente, e funcionou. Não deu mais tilt, pau, ou qualquer outra disfunção tecnológica.

Não sei exatamente o que foi aquilo, provavelmente era a primeira coisa a aparecer na inicialização do cartucho, brincadeira de programadores que "sabiam" que essa tela não apareceria... exceto se dois pentelhos resetassem tanto o videogame que travasse logo no primeiro centésimo de segundo.

O smiley existe desde 1967, mas só fui ver essa cara maligna de novo quando começou a febre das salas de bate-papo na era pré-histórica da conexão discada. Hoje em dia já fizemos as pazes

Um comentário:

Jéfi disse...

hahaha
eu ri muito do smiley poltergeist, Pedro!
ahaha

muito bom seu texto. me lembrou a frustração de nunca ter zerado nenhum jogo.
haha

abraços