2 de set. de 2009

Partindo do pressuposto errado

Sabem o que eu fiz no verão passado? Eu perdi toda a consideração, da pouquíssima que já tinha, por um colunista de um jornal. Daqueles que têm meia página para lançar notinhas de 5 linhas sobre amenidades aleatórias, e que eu tinha de ler porque fazia parte do meu trabalho diário.

O dito colunista, naquele dia, resolveu escrachar o filme "Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado". No começo desse filme norte-americano, a protagonista ganha uma viagem com tudo pago ao responder à pergunta de um programa de rádio. A pergunta é "qual a capital do Brasil?". A resposta, considerada correta e que lhe dá o prêmio, é "Rio de Janeiro". O colunista conta isso e diz que é a gota d'água, que os enlatados passaram dos limites de desinformação etc etc.

Não vou contar o filme, mas o fato é que obviamente o colunista NÃO VIU O FILME e saiu gastando tinta do jornal à toa, partindo do pressuposto errado.

Sei lá porque isso me veio à cabeça hoje, e acabei lembrando não de pessoas, mas de filmes que, a partir da forma de contar sua história, remetem a esses pressupostos errados - seja na própria história ou na "filosofia" do filme (me faltou palavra melhor, desculpem...)

Lembrei de alguns deles e resolvi compartilhar. Digamos que esta seja a coletânea "não vale dizer que já sabia depois dos créditos". E vamos a eles (não se preocupem, sem spoilers):

1 - Os Outros



Liguei a TV um dia e estava passando esse filme, que sempre tive curiosidade de ver. Para meu enorme azar, eu não sabia que estava na sequencia final. Preso pela tensão, acabei estragando completamente a história.


2 - O Amigo Oculto



Pois é, outro filme que não vi. Na verdade, não vi nem um ceninha sequer, e no entanto sei o final porque uma vez uma pessoa "mui amiga" virou pra mim e perguntou se eu lembrava o nome "daquele filme da uma menina que diz que tem um amigo imaginário, e pessoas que ela conhece vão morrendo, mas aí no final...". Sim, ela contou o final. Eu não tinha visto o filme, mas tinha ouvido falar. Lembrarei desta história com ódio pelo resto da vida e hei de contá-la para meus netos com tom de lição de moral.

3 - O Sexto Sentido



Tem gente que ama e gente que odeia esse filme. Algumas pessoas que assistiram me falaram depois "ah, logo no começo eu já sabia". Na maior parte são pessoas metidas a sabichonas. Nunca vi alguém que tivesse dado a resposta NO MEIO do filme. Só depois. Assim não vale.


4 - O Clube da Luta



Uma obra que é ao mesmo tempo pop e cult. Não tem muito pra dizer, o filme é sensacional e, como a ideia do post, você passa o tempo todo achando que o filme é uma coisa e depois descobre que é outra completamente diferente, mas que é aquilo mesmo também. Sacou?


5 - O Hospedeiro



Um monstro ataca uma cidade, engole uma garota viva e a leva pro rio de onde veio. O pai da garota teve contato com o monstro. Ele e sua família passam a ser perseguidos pelas autoridades, pois podem ter sido contaminados com um vírus misterioso. O país está em alerta geral pela doença desconhecida, e a família tenta desesperadamente encontrar a garota, que conseguiu dar um sinal de vida. Um terror com perfeitos toques de humor que não tiram a tensão da história. E seria completamente diferente não fosse um pressuposto errado no meio de tudo. Vale a pena demais!


6 - Eu Sei Quem Me Matou



Junto com O Hospedeiro, foram os filmes que me inspiraram na ideia do titulo do post. Neste filme, uma garota é encontrada na beira da estrada com um braço e uma perna amputados - marcas de que foi atacada por um assassino serial que está sendo investigado. Levada para o hospital, é reconhecida pela família como a filha que desaparecera duas semanas antes. Ela, porém afirma ser outra pessoa com outro nome e uma história de vida completamente diferentes. Flashbacks frequentes e um uso constante da cor azul clara em todo tipo de elemento, das roupas à decoração, aos olhos, aos objetos (reparem a predominância da cor no trailer) bagunçam a cabeça do espectador o tempo todo. Aqui é até possível adivinhar o fim da história sim, mesmo que no chute. Mas, como no Hospedeiro, o que interessa é o pressuposto que guia as ações de todos os personagens.


7 - Dead End



Eu estava quase publicando o post quando lembrei deste. "Dead End", não sei se tem nome em português. Peguei uma vez, por acaso, começando nesses Corujões da vida, e fiquei preso até o final. Terror com direito a misterioso-carro-preto, carrinho-de-bebê, mulher-de-branco e cabana-abandonada, tudo isso no meio de uma estrada deserta e interminável que uma família pega durante uma viagem. O que podia ser um monte de clichês é um dos melhores filmes de terror que já vi (com direito à famosa pegadinha final nos últimos segundos pra deixar coisas no ar).

8 - Os suspeitos



A história é contada por flashbacks a partir do depoimento de um crimonoso a um delegado. Um crime incomum, no qual várias pessoas morrem sem uma explicação plausível, organizado por um homem misterioso e abominável que nunca se mostra. "O maior truque do Diabo foi convencer a todos que ele não existe" [fala do trailer que, infelizmente,como em outros aí em cima, não achei legendado]. Como quase todos os filmes citados (exceto o Hospedeiro) se você não viu os últimos 2 minutos, você absolutamente não viu o filme. Mesmo que seja pra dizer no final que já sabia desde o começo.


Agora assistam a esses filmes, e jogue a primeira pedra quem nunca deu com os burros n'água porque fez alguma coisa ou chegou a alguma conclusão partindo do pressuposto errado.

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