23 de ago. de 2009

Pelo silêncio nos espetáculos


Outro dia li esse texto, em que a autora faz um apelo pelo fim do blablablá no cinema.

Pois eu digo que isso devia ser uma campanha, e ir além do cinema: qualquer espetáculo que não envolva a participação direta da platéia (ex: maior parte do teatro, espetáculo de dança etc).

Já está muito difícil frequentar o cinema. Nas últimas 4 ou 5 vezes que fui ver um filme tive que mudar de lugar ou aguentar comentarios em voz alta à minha volta durante todo o filme. E quase sempre são pessoas adultas, ou pelo menos crescidinhas o suficiente para ter o mínimo de noção de educação nesse tipo de espaço.

Hoje fui assistir a um espetáculo de dança da Companha 1º ato. O nome é "Isso aqui não é Gotham City", e era realmente (pra ser) algo divertido. Só quando a peça estava prestes a começar reparei no número de crianças na platéia.

A propósito, era realmente um espetáculo lúdico, brincando com a linguagem de quadrinhos, mas não exatamente infantil. Sem restrições, apenas algumas coisas são um pouco elaboradas demais para criançasde 5, 6, 7 anos compreenderem.

Pois bem, resumindo, assim que começa o espetáculo descubro que estou sentado bem à frente do menino-gênio-chato da platéia. A figurinha, de no máximo 8 anos, passou o tempo todo dizendo ao pai o que entendeu ou perguntando o que não entendeu.

"Olha ele tá colocando uma roupa branca. Ela brilha na luz fosforescente!"
"O que ele fez com ela? "
"Quem é esse? O que ele está fazendo?"
"Ah, ela tá disfarçada! Aposto que é uma vilã!"

"O que você tá lendo? Tá gostando?
Como desliga o computador, é puxando a tomada assim?"


E o pai? Aí é que está a fonte de todos os problemas. Revoltados com as crianças da platéia do meu Brasil, CULPEM OS PAIS! Sim, o pai do garoto não apenas não pedia silêncio, como respondia cada pergunta, e ainda eventualmente explicava algo espontâneamente.

Lá pelas tantas, não bastasse o falatório, o menino resolveu comer alguma coisa, provavelmente um chiclete. De boca aberta. Sabe aquele som de alguém mascando chicletede boca aberta? Então.

Mandem o ECA pra cima de mim, mas não posso negar que dei um sorriso malévolo quando a figurinha engasgou. Não foi nada de mais, ele apenas tossiu e limpou a garganta. Mas pra mim foi uma catarse.

Momento Zé do Caixão (e olhe que peguei leve, hein!):
Espero sinceramente que o menino não tenha entendido, não tenha gostado e tome raiva de espetáculos e salas de cinema. Que cresça ouvindo rock, punk, heavy metal, deixe os cabelos longos e passe o dia fazendo air-guitar e head-bangs que precisem de bastante estímulo em altos decibéis. Frequente apenas shows da pesada, com muita gritaria, ou vá ao Pop Rock ficar pulando na chuva. Ou então que ouça muita música Emo e não vá em nada porque o mundo o odeia e ele não quer compartilhar nada com ninguém, quer apenas ficar no quarto com seus fones de ouvido, encolhido num canto. Que, seja como for, que ele passe a considerar cinemas e salas de teatro como espaços de manifestação da elite burguesa capitalista que tenta criar uma aura de alta cultura para contrapor a diversidade das manifestações pós-modernas que tentam mudar o status quo.

Mas que eles, e principalmente seus pais sem noção, parem de frequentar lugares onde o silêncio da plateia é parte do espetáculo! Ou pelo menos as cadeiras à minha volta.

Ah, mais uma coisa: se você concorda comigo, por favor jamais faça "shhhhhh!", especialmente no cinema. Desde pequeno aprendi que um "shhh" pedindo silêncio sempre gera um "shhhh" em resposta pedindo pra não fazer "shhhh" e, em seguida, mais dois ou três "shhhh" que acharam ruim todo mundo começando a fazer "shhhh" e, finalmente, diversos "shhhh" seguidos de risadinhas, e a coisa vira brincadeira.

Um comentário:

Betaldi disse...

Hahahahahah...

Fio, quando vc é bom, é bom, mas quando resolve ser mau é melhor ainda!