9 de ago. de 2009

Eu sabia!

Essa frase, "eu sabia!" - que na verdade deveria estar na categoria interjeições, junto com "putz grila!" e "como é que ninguém pensou nisso antes?" - geralmente cumpre, sem que a gente perceba, o papel de denunciar nossa própria culpa.

Isso porque "eu sabia!" sempre é dito diante de uma situação em que podíamos evitar mas deixamos acontecer. Podíamos avisar, mas não avisamos. Fingimos que não percebemos o tempo todo, e de tanto fingir nos convencemos de que não sabíamos até o momento apropriado de soltar um "eu sabia!", que tenta passar uma sagacidade do seu locutor, algo como a inteligência zen daquelas pessoas que acreditam que tudo está predestinado e não importa o antes e o depois. Se você sabia ou não, não faz diferença. Que nada! Justamente porque sabia, pior pra você.

Você sai de casa com o tanque quase vazio, você olha o marcador e diz que dá pra chegar lá no cafundó e passar no posto na volta. O carro para no meio da estrada. "Eu sabia!". Você vê o menino andando no muro, se equilibrando, fica só olhando até o menino cair e se estatelar no chão e aí sim todo mundo acudir. "Eu sabia!". E, só pra enganar e diminuir a culpa, de vez em quando você solta um "eu sabia!" que te faz parecer o responsável por algo bom. Tipo, seu time, na lanterna do campeonato, faz 6 x 0 sobre o favorito e você grita "eu sabia!!!".

E sabe-se lá porque a gente entra nessas. Diz que não vai, mas vai, mesmo tendo certeza desde o início de que não tem jeito de dar certo. Bota fé em quem defintivamente não tem conserto e, quando leva a facada nas costas, diz "eu sabia!". Porque, no fundo, no fundo, sabia mesmo.

Quem sabe um dia a gente aprende. Aprende não a saber, mas a dizer "eu já sei" ao invés de "eu sabia!". A ressaca moral da ignorância é muito menor do que a de saber das coisas no pretérito nada perfeito do subjetivo.

"Sacudiu um pouco no caminho,
mas é só abrir com cuidado"

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