30 de dez. de 2008

Por que não seguir Maquiavel

Olha só essa história: http://apnews.myway.com/article/20081228/D95BS3IG0.html

Um homem e uma mulher se conheceram num campo de concentração, na época da segunda guerra. Ele era um dos presos. Ela passava escondido para eles maçãs e pães pela cerca de arame farpado. No meio do holocausto, os dois se apaixonaram, casaram-se e viveram mais de 50 anos Juntos.

Ele, em busca de um mundo melhor, resolveu contar essa história de um amor possível para inspirar as pessoas. Para isso, escreveu um livro que seria lançado em breve.

Seria. A Editora cancelou a publicação, porque descobriu que essa história jamais aconteceu. O homem, Herman Rosenblat, conheceu sua esposa em Nova York, num encontro às cegas. Numa declaração divulgada recentemente ele se descreveu como "um defensor do amor e da tolerância que falseou o seu passado para melhor espalhar sua mensagem".

Então, os fins justificam os meios?

Herman escreveu um livro dizendo ser verdadeira uma história falsa. Para isso, falseou não apenas sua história pessoal, mas dados históricos. Falou sobre pessoas que não estavam lá, sobre comportamentos que não ocorreram, decisões que não foram tomadas, coisas que não aconteceram numa época tão conturbada e importante da história. Tudo isso poderia ter sido material de pesquisa no futuro - e de distorção da história da humanidade. Ele sabia disso, mas em nome de um bem maior, "o amor e a tolerância", valia a pena.

Herman também contava uma história sobre um homem e uma mulher, uma história linda, como verdade, como se dissesse "isso também pode acontecer com você" (considerando as devidas analogias, claro). Disse que era verdade, porque com isso o sentimento ainda seria mais forte. Estava mentindo, sabia disso, mas, em nome de um bem maior, valia a pena.

Herman conversou com várias pessoas, com editores, e provavlemente com repórteres - se é que não contou a história para todos que conhece - dando como verdade tudo que estava no livro. Manipulou, sim, algumas pessoas com essas mentiras. Mas se a história fosse tomada como verdadeira, seria mais provável de ser publicada. Portanto, essa pequena manipulação, em nome de um bem maior, valia a pena.

Valia a pena?

A reputação de Herman foi pro saco. Os editores vão passar a desconfiar ainda mais de histórias verídicas pra não se queimar. Agentes, editores e demais pessoas que conversaram com eles se sentem traídos e desconfiados. Outros livros de história, de autores provavelmente honestos, são colocados sob uma aura de desconfiança.  Quem ouviu esse caso pode ficar um pouquinho mais cético sobre histórias de amor (se pra falar de amor e tolerância é preciso criar uma mentira, não existe nada de verdade pra falar sobre isso?). 

Pra Herman, os fins justificavam os meios. É nisso aí que dá.

A propósito, pra todos que acreditam que os fins justificam os meios e praticam essa filosofia: procure um psiquiatra! Se você faz isso para o bem alheio, você tem um sério problema de complexo de grandeza, achando-se capaz de definir o que é melhor pros outros. Se faz isso pro seu próprio bem, provavelmente sofre de algum tipo de sociopatia.

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